...foi então que pegou seu aparelho celular e percebeu que estava completamente sem sinal. Ele queria falar com alguma autoridade, Polícia, Corpo de Bombeiros, foi quando olhou em volta e viu toda a população batendo em retirada. Era uma situação difícil, que causava mal estar, e a festa estava ocorrendo naturalmente, como se tudo aquilo fosse invenção do radio-operador.
Carlos se sentia extremamente confuso, e decidiu falar novamente com João.
Entrando novamente na festa, esbarra com João.
-João, tem certeza que o seu amigo do rádio não estava certo?
João responde
-E daí se estiver? Curte a festa, olha a mulherada, geral tirando a roupa. Olha a piscina lotada de gatas. Nem está chovendo!
Carlos percebeu que João estava realmente despreocupado. Foi uma mistura de sentimentos. Decidiu falar com um dos moradores.
-Ei, Senhora, é sério que este local será inundado?
A senhora já bem idosa olha para dentro dos olhos de Carlos e diz:
-Meu filho, olhe bem aquela marca no teto de minha casa, ali "no segundo andar". Foi a três anos, e aquele rapaz do rádio fez a mesma coisa, só que embora muitos tenham escutado seu anúncio, poucos deram ouvidos, e esta cidade virou um lugarejo. Muitos morreram. Me ajude com minhas muletas, quero sair logo daqui.
Carlos ficou apavorado, ajudou senhora e correu para seu carro. Queria sair dali a todo custo.
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No alto da Serra, do outro lado, o rádio-operador tentava sinal de celular, mas não logrou sucesso.
Chamou geral no canal 40 USB de seu rádio PX, e o primeiro a atender foi Rogério Luiz Canado, que escutou e anotou calmamente as instruções com o objetivo de procurar as autoridades e colher informações. Rogério estava em outro município, a 120 km.
Outro radio-operador escutava o assunto e no espaço de câmbio se pronunciou:
-QTC QTC! A informação solicitada passou agora na TV. A barreira de contensão do município ao lado realmente acabou de ser rompida e já está devastando as cidades adjacentes. Aqui é o radio-operador Eduardo dos Passos Moreira, Estação Lagarto.
Eduardo estava a 1.180 Km de distância, em Santo Antônio do Morro da Boiada do Paraibuna.
O rádio-operador chamou novamente Rogério Canado e explicou que estava sozinho. Repassou a informação do radio-operador Lagarto e mudou a solicitação.
-Atenção Rogério Canado, segundo informações do radio-operador Lagarto o pior já aconteceu. Por favor procure o Batalhão do Exército, preciso de sua ajuda, vamos ficar em situação difícil aqui. O tempo está fechando muito rápido, as nuvens que se aproximam são escuras, será um temporal, não temos estrutura física para abrigar a população que está chegando.
Rogério respondeu:
-Ok, permaneça neste QAP, neste canal, posso demorar alguns minutos, mas volto, e com notícias, QSL?
-QSL!
Respondeu o rádio-operador.
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Ainda no lugarejo...
Carlos entra em seu carro e liga o radinho FM, daquele jeito automático de quem gosta de ouvir música a todo momento, e nota que em todas as estações há um silêncio absoluto. Gira o dial para procurar alguma estação no AM, e nada, só estalos fortes.
Acelera em direção a serra, passa pela ponte do rio Formoso e nota que o nível da água subiu 3 metros, estava no mesmo nível da ponte. É exatamente neste momento que ele percebe a seriedade da coisa.
A ponte é extensa, ele não pode acelerar porque a ponte está balançando. Ele consegue passar, mas no espelho retrovisor percebe que o rio está invadindo a ponte, e acelera ainda mais porque logo a frente tem outra ponte, só que curtinha, de um brejo.
A medida que trafega em direção a ponte, nota que o dia começa a parecer noite, que nuvens carregadas se deslocam rapidamente, e acelera ainda mais a Brasília branca, só que na curva a sua frente tem uma manada de bois, que seguindo o próprio instinto fogem na mesma direção.
Carlos tenta a todo custo passar a frente dos bois, mas não consegue. Olha no retrovisor e...
(continua amanha)
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